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Psicólogo – Universidade Estadual do Rio de Janeiro (2000), Gestalt-terapeuta – Núcleo de Estudos e Treinamento em Gestalt-Terapia – CRP 05/PJ 0413/ RJ (2001), Psicopedagogo: Clínico-Institucional – Universidade Gama Filho (2006), Psicólogo Clínico – Instituto de Gestalt-terapia e Atendimento Familiar - CRPJ 05/0347 (2008), Supervisor de Estágio em Atendimento de Grupo na Abordagem Gestaltáltica para alunos de graduação - Instituto de Gestalt-terapia e Atendimento Familiar - CRPJ 05/0347 (08/2008 a 12/2010), Docente do Curso de Extensão em Medicina Aeroespacial (CEMAE), coordenada pelo Centro de Instrução Especializada da Aeronáutica (2012 a 2015), Docente e Coordenador da Disciplina Comportamento nas Organizações da Pós-graduação em Gestão Pública, ministrado na Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais da Aeronáutica (2013 a 2015) e Docente do Curso de Preparação de Instrutor (CPI), coordenado pelo Centro de Instrução Especializada da Aeronáutica (2007 a 2016), instituição sediadas no Campus da Universidade da Força Aérea.

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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

GESTALT-TERAPIA: conceitos básicos, implicações e diálogo.



Friedrich Perls (foto acima) desenvolveu uma abordagem da Psicologia chamada Gestal-terapia. Em suas reflexões críticas sobre a Psicanálise, sinalizou, com extrema pertinência, que manter o cliente de costas para o analista empobrecia a relação terapêutica. Ele teve a coragem de colocar o cliente de frente, olho no olho. Diante disso, passou a considerar, em sua atuação terapêutica, não somente a comunicação verbal, mas os sinais oriundos do corpo, o não verbal. Com isso, acreditava que poderia potencializar o processo de autoconhecimento do cliente.
A visão de homem na Gestalt-terapia é baseada em três pressupostos filosóficos: o Humanismo, o Existencialismo e a Fenomenologia. Eles se unem e completam-se, formando uma base sólida de sustentação teórica. Além disso, existem também as contribuições da Psicologia da Gestalt, da Teoria de Campo, da Teoria Organísmica, da Relação Dialógica, da Teoria Paradoxal da Mudança, dentre outras.
Basicamente, possui uma concepção de mundo, na qual o homem é o centro, de forma que o caminho percorrido pelo terapeuta tem como ponto de partida o ser humano e não a teoria. Diante disso, na medida em que se direciona o olhar primeiramente para ele, há uma valorização da essência, das particularidades e da sua subjetividade.
Portanto, para a Gestalt-terapia, a existência sempre precederá a essência, de maneira que esta é construída a partir da relação com o meio. Dentro dessa perspectiva, pode-se dizer que para o homem se desenvolver, ele precisa se relacionar com seu semelhante para se constituir como tal. Logo, ao nascer, ele não possui um eu definido a priori, irá se constituir na relação com o meio exterior.
O homem é um ser livre. Ele se constrói, configurando-se como o arquiteto de sua própria existência. Ele é um "eterno" um vir a ser. O único responsável por esse processo. Portanto, o homem se lança diante das possibilidades, na construção da existência, através das suas escolhas.
Ademais, não existe ninguém que saiba mais sobre si do que o próprio homem. Ele é a maior autoridade e o único que detém esse conhecimento. Por isso, não será nenhuma teoria que o rotulará, cada um possui uma história e lida com esta de forma particular.
Diante disso, é no conflito genuíno entre as necessidades do indivíduo e as dos outros, que começa a discussão em torno do trabalho terapêutico, pois leva em conta que é na relação entre cliente e terapeuta, que se estabelecerá o processo que fará com que o primeiro entre em contato com o exterior e consigo.
A radicalidade da proposta existencial-fenomenológica aponta para uma perspectiva inovadora, que exalta a necessidade de quebra de paradigmas para que o sujeito se liberte, principalmente, de si mesmo. Dessa forma, ele pode encontrar a sua maneira particular de lidar com o conflito genuíno supracitado.
Na cultura ocidental em que a sociedade está inserida, percebe-se a existência de uma pressão para que o sujeito corresponda às expectativas externas. Esse contexto faz com que ele vivencie um estado de impasse constante, isto é, precisa escolher entre seguir o caminho que quer traçar na construção de sua existência ou construir um que corresponda às expectativas do meio social e familiar.
Dentro dessa perspectiva, pode-se dizer que a motivação que conduz os clientes aos consultórios está associada exatamente ao sentimento de incapacidade para lidar com as pressões do meio externo. Considerando esse contexto, segue, como forma de ilustração, a história da borboleta:

Lembro-me de uma manhã em que eu havia descoberto um casulo na casca de uma árvore, no momento em que a borboleta rompia o invólucro e se preparava para sair. Esperei bastante tempo, mas estava demorando muito, e eu estava com pressa. Irritada, curvei-me e comecei a esquentar o casulo com meu hálito. Eu o esquentava e o milagre começou a acontecer diante de mim, a um ritmo mais rápido que o natural. O invólucro se abriu, a borboleta saiu se arrastando e nunca hei de esquecer o horror que senti então: suas asas ainda não estavam abertas e com todo o seu corpinho que tremia, ela se esforçava para desdobrá-las. Curvado por cima dela, eu a ajudava com o calor do meu hálito. Em vão. Era necessário um acidente natural e o desenrolar das asas devia ser feito lentamente ao sol - agora era tarde demais. Meu sopro obrigara a borboleta a se mostrar toda amarrotada, antes do tempo. Ela se agitou desesperada, alguns segundos depois morreu na palma da minha mão. Aquele pequeno cadáver é, eu acho, o peso maior que tenho na consciência. (AZANIZAKI, 2006).

No cerne desta história está a crença de que aquela criatura é incapaz de agir de forma autônoma. A atitude do dito “salvador” tem um poder devastador, tendo em vista que denota desrespeito às limitações, ao ritmo e ao potencial do ser singular.
No caso da borboleta, o animal morre nas mãos do seu salvador, mas quando se trata de pessoas, a metáfora pode ser adaptada, de maneira que, ao final, elas passem a rastejar pelo resto das vidas por não terem tido a oportunidade de desenvolver suas asas.
Apesar da pertinência dessa história, ela não dá conta de tudo que está envolvido dentro da perspectiva do humano. Existe, portanto, a necessidade de completar as lacunas que faltam para que seja possível se aproximar da realidade do homem no seu processo de subjetivação.
Outra história retrata, de forma criativa, um aspecto humano que não está presente na história da borboleta.

Quando eu era pequeno, eu adorava circos, e o que eu mais gostava no circo eram os animais. A mim, assim como também aos outros, como eu soube mais tarde, o elefante chamava a atenção. Durante a apresentação, ele fazia demonstrações de peso, tamanho e força incomum... Mas depois da sua apresentação e até pouco antes de voltar ao cenário, o elefante ficava preso somente por uma corrente que aprisionava uma das suas patas a uma pequena estaca pregada no chão. Entretanto, a estaca era somente um minúsculo pedaço de madeira enterrado a apenas alguns centímetros dentro da terra. E apesar de que a corrente era grossa e poderosa, eu achava óbvio que esse animal capaz de arrancar uma árvore de raízes com a sua própria força, poderia, com facilidade, arrancar a estaca e fugir. O mistério é evidente: 'O que o mantém preso, então? Por que ele não foge? [...] O elefante do circo não foge porque ele esteve amarrado a uma estaca parecida com essa desde que ele era muito, muito pequeno... [...] Este elefante enorme e poderoso, que vemos no circo, não foge porque acredita - coitado - que não pode. (BEAUCLAIR, 2006).

O aprisionamento do sujeito às próprias crenças, que são construídas na relação que ele estabeleceu com o meio, ao longo de sua vida, pode paralisar, estagnar ou cristalizá-lo, tornando-o limitado nas suas potencialidades.
As ferramentas conceituais da Gestalt-terapia podem contribuir de forma significativa para que o cliente consiga soltar-se das amarras que ele próprio construiu. Afinal de contas, o homem é o arquiteto do próprio destino e é considerado como um eterno vir a ser. Portanto, essa perspectiva aponta para um ser com potencial dinâmico e não como algo estático. Essa constatação revela uma concepção otimista, ou seja, o homem é caracterizado sempre pela possibilidade de mudança. Isso significa que, por pior que o cliente esteja se sentindo, essa situação não é definitiva.
Neste momento, vale ressaltar alguns aspectos da prática clínica. É muito importante que fique claro, que o simples fato de estar diante de um profissional, não significa que o cliente “tenha que falar”, mas que ele possa se respeitar, identificando o que ele quer e está podendo dividir naquele momento. O gestalt-terapeuta incentiva o cliente a conjugar os verbos poder e querer, ou seja, antes de escolher falar sobre qualquer questão, é preciso saber se está querendo e se está podendo. O exercício do auto-respeito às próprias limitações possui um cunho terapêutico poderoso.
O papel do terapeuta na relação com o cliente pode ser representado por duas metáforas. Na primeira, o terapeuta pode ser visto como um guia. No entanto, ao contrário dos guias tradicionais, não conhece o caminho a ser trilhado, mas respeita e acompanha o caminho que o cliente decidir seguir.
O terapeuta pode ser visto também como um espelho. Ele reflete a imagem do cliente por meio das suas intervenções, de forma que ele possa se ver como talvez nunca tenha conseguido antes. Essa configuração tende a potencializar o processo de autoconhecimento.
A ação terapêutica considera que o detentor do saber é o cliente e não o terapeuta, pois ninguém sabe mais sobre o cliente do que ele mesmo. Outro detalhe significativo, é que o terapeuta não está diante do cliente para julgá-lo, mas estará disponível para acolher as suas questões.
Para finalizar, o gestalt-terapeuta prepara o campo terapêutico para estabelecer uma relação dialógica genuína com o cliente. O diálogo autêntico surge como fator de cura diante de tantas inquietações. Afinal de contas, Diálogo implica necessariamente escuta. Escuta implica proximidade. Proximidade implica envolvimento. Envolvimento implica estar inteiro diante do outro, implica percebê-lo na sua totalidade, escutar o inaudível, ou seja, dar forma ao diálogo.
Parece um jogo de palavras, que se complementam harmoniosamente como numa poesia, mas que traduzem um caminho que, pelo menos no discurso, iniciou-se com o diálogo e finalizou novamente com o diálogo, perfazendo um ciclo que dá uma pequena idéia da pertinência, da dificuldade e da intensidade do conceito de relação dialógica. Essa postura diante do cliente permite que o profissional de orientação gestáltica tenha disponível os dados necessários para fazer as intervenções adequadas no processo terapêutico. Enfim, a relação é o foco e o diálogo traz beleza para esse encontro entre o cliente e o gestalt-terapeuta.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
AZANIZAKI, Nikos. A borboleta e a Psicopedagogia. Disponível em: www.rosangelaliberti.recantodasletras.com.br/blog.php?idb=1105. Acesso em (10/02/2006)

BEAUCLAIR, João. O elefante acorrentado. Disponível em: www.profjoaobeauclair.net/blog.php?idb=2949. Acesso em (03/11/2006)

CASTRO, D. J.; SCHNEIDER, D. R. A situação do existencialismo moderno. Cadernos de Psicologia. Rio de Janeiro, Instituto de Psicologia/ UERJ, n. 8, p. 139-149, 1998.

DARTIGUES, André. O que é a fenomenologia? Rio de Janeiro: Eldorado, 1973.

HYCNER, Richard e JACOBS, Lynne. Relação e cura em Gestalt-terapia. São Paulo: Summus, 1997.

MILLER, Alice. O drama da criança bem dotada: como os pais podem formar (e deformar) a vida emocional dos filhos. São Paulo: Summus, 1997.

PERDIGÃO, Paulo. A Liberdade. Existência e liberdade: uma introdução à Filosofia de Sartre. Porto Alegre: L&PM, 1995.

PERLS,  Fredrich.  A abordagem  gestáltica e testemunha ocular da terapia. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 1988.

______; HEFFERLINE, Ralph; GOODMAN, Paul. Gestalt-Terapia. São Paulo: Summus, 1997.

POLSTER, Miriam e POLSTER, Erving. Gestalt terapia integrada. Belo Horizonte: Interlivros, 1979.

RIBEIRO, Jorge Ponciano. Gestalt-Terapia: refazendo um caminho. São Paulo: Summus, 1985.

RIBEIRO, Walter F. R. Existência – essência: desafios teóricos e práticos das psicoterapias relacionais. São Paulo: Summus,1998.

SOUZA, Ilcéia H. O eu e as relações. Florianópolis: Nuca, 1987.

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VASCONCELLOS, Celso dos Santos. Coordenação do trabalho pedagógico: do projeto político pedagógico ao cotidiano da sala de aula. São Paulo: Libertad, 2002

5 comentários:

  1. Caro colega de trabalho e amigo, parabéns pelo teu Blog! Desejo que ele receba muitas visitas, informe as pessoas sobre nosso trabalho psicológico e lhe traga também novos clientes. Grande abraço!

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  2. Que delicia de ler e que prazer recordar as bases que dão sustentação ao nosso trabalho. Obrigada. Bjs Claudia

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  3. http://pt.shvoong.com/social-sciences/psychology/2366218-fritz-perls-gestalt-terapia-teorias/

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  4. Breve resumo sobre os principais conceitos existentes na Gestalt-Terapia. ;)

    http://pt.shvoong.com/social-sciences/psychology/2366218-fritz-perls-gestalt-terapia-teorias/

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  5. Adorei as metaforas e como elas retratam vários dos meus casos clinicos. Muito bem escrito, parabens!

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